sábado, 5 de julho de 2014

Semana de um Usuário

Semana de um Usuário
Por Fernando Anselmo

Dia 01

Hoje, como todo bom usuário (definição simples daquele que UTILIZA o computador) acordei e dei bom dia para meu computador que me respondeu com bip, achei aquilo muito esquisito (ele nunca tinha me comentado nada), liguei a tela (meu computador fica 24/7 ativo) e para minha surpresa a pobre máquina estava doente. Os sintomas eram claros: vírus. Como sempre o bendito antivírus deixou passar alguma coisa. Dizer que a máquina estava com vírus era brincadeira, eles estavam tão bem instalados que já tinham criado seu próprio sistema político, mas como vivo de informática resolvi combatê-los. A luta foi boa e como qualquer "informático" ganhei.

Dia 02

Após atualizar todos os programas, descobri sequelas do vírus a máquina estava um tanto lenta, bem nada que arrumar a área de registro e uma boa desfragmentação não resolva. Vou ter que deixar o programa organizador processando a noite toda.

Dia 03

Liguei novamente o monitor e agora no "Windows Explorer" aparece a mensagem: "O Windows Explorer travou... procurando a solução... reiniciando o Windows Explorer" isso acontece a cada 1 minuto e não consigo fazer mais nada na máquina. Tentei recuperar o sistema através do CD de instalação mas, esse acusa que meu ponto de restauração não resolve o problema. Com um pouco de pesquisa (no tablet) descobri que o problema era com o ".NET Framework" que está corrompido, a solução é muito fácil (como tudo no ambiente Windows) entrar em modo de segurança e reinstalar. Descobri que no modo de segurança também aparece a mesma mensagem (afinal de contas o Windows Explorer depende do framework para executar), nada de pânico, deve ser possível executar isso de um pen-driver, vou precisar de outra máquina para baixar e copiar o framework.

Dia 04

Agora ficou muito fácil, entrar no Executar, e chamar o executor de comandos (CMD) e disparar o instalador do framework. Após meia hora (a maldita tela da mensagem que puxa o foco para ela o tempo todo) consegui com que o instalador rodasse, após mais um bom tempo (e muitas outras telas aparecendo) me veio a mensagem: Você está em modo de segurança e é impossível instalar este programa. Retorne ao ambiente normal. Tenho pena de algumas mães que não tiveram culpa pela raiva que senti. Mais um boot e estou no ambiente normal, o mesmo trabalho (e as mesmas telas) e finalmente o framework começa a ser instalado, meus problemas vão finalmente terminar. Após o término da instalação nada aconteceu. Lembrei que esse é um ambiente onde reiniciar a máquina é essencial para que as alterações sejam efetivadas. Mais um boot e nada. O mesmo problema se repete. Vou dormir com um único pensamento na cabeça vou ter que tirar todos meus arquivos e formatar. Após anos é esquisito dormir sem o computador fazer aquele barulho que me era tão característico porém, não tem o menor sentido deixar a máquina ligada.

Dia 05

Como tirar todos os arquivos de uma máquina que é impossível usar o Windows Explorer? Fácil pelo MS-DOS (por isso mesmo sou programador), encaixo o driver externo e começa a rotina XCOPY. Ao comentar com um colega minha situação ele perguntou: Porque não utiliza um Live CD e copia os arquivos? - Ainda bem que tenho amigos, mais um boot só que dessa vez pelo CD e consegui obter todos meus arquivos pessoais.

Dia 06

Hoje é sábado e estou com um dilema na cabeça, por que instalar o Windows 7 (ou 8) novamente? Não que o Linux (ou mesmo MacOS) sejam melhores ou piores, mas a pergunta é: O que eu faço com essa máquina? O que tem de tão essencial no Windows para que eu realmente precise dele? E pensando friamente, um usuário normal instala o Windows, um programa de escritório, um tocador de música, e por aí vai em uma relação de programas usados que não possui qualquer referência se são melhores ou piores (coloquei essa relação no meu Blog Decus in Labore), ou seja, provavelmente consigo facilmente substituir todo meu sistema (e forma de trabalho) ainda com alguns lucros:
  • Não fico dependente de programa pagos (ou de programas a R$ 1,99 obtidos por fornecedores para lá de suspeitos).
  • Não fico propenso a ataques de vírus.
  • Vou ter um sistema mais controlado.
Coloquei o CD do Ubuntu 14.04 e simplesmente comecei o meu processo de formatação para um novo ambiente.

Dia 07

Liguei o computador e já coloquei todos meus arquivos e programas de volta, engraçado, pois dos 500 Gb do meu HD quase lotado do sistema anterior ainda tenho 300 Gb livres, já vi que minha compra por um HD de 1 Tb pode esperar um pouco.

Observação Final: Não é minha intenção ofender o sistema operacional Windows ou dizer que Microsoft deveria ser banida da face da terra. Usei o Windows desde sua versão 3.0 e simplesmente resolvi mudar. Esse foi o fato derradeiro e resolvi narrá-lo do modo como aconteceu. Não quero influenciar ninguém e desejo que se sintam felizes em usar seus Windows ou MacOS, assim como estou agora em utilizar o Linux.

Boa leitura e até a próxima
Fernando Anselmo

sábado, 7 de junho de 2014

Animal Farm

Essa minha semana foi marcada com a leitura de livro mais que sensacional. A Revolução dos Bichos de George Orwell (favor não confundir com o ator Orson Welles; ou H. G. Wells autor de Guerra dos Mundos). Este livro foi escrito no exato dia do meu aniversário (17 de agosto) mas o ano é um pouquinho diferente (1945, perto do final da 2ª Guerra Mundial), mas que segundo a Wikipédia a data em representa quando foi declarada a Independência da Indonésia.

Na minha opinião este livro deveria ser de leitura obrigatória em todas as escolas do mundo. Tudo se inicia quando os animais que são oprimidos pelo dono beberrão de uma fazenda se revoltam e tomam o poder.

A partir deste momento e muito claramente vemos três partes de um sistema, a primeira de um comunismo perfeito em sua essência sendo que cada espécie de animal é igual, age, trabalha e come de acordo com suas capacidades; um comunismo não tão perfeito aonde algumas espécies de animais começam a ser tratados de forma diferenciada até que finalmente o controle pela ditadura onde uma raça dominante possui o controle total da fazenda.

Não desejo em momento algum estragar sua leitura mas devo dizer que alguns acontecimentos são simplesmente revoltantes. Entre os bichos existe um cavalo, chamado de Sansão, que é forte e trabalhador e seu lema principal é: "Vou trabalhar mais arduamente" porém seu destino é simplesmente incrível (parecia que estava lendo livros do George R. R. Martin). Claramente vemos personagens como Nicolau II (Czar deposto na Rússia), Stalin e Napoleão Bonaparte, assim como representações de classes operárias, cultos a religiões e novas formas de comportamento.

A cena mais cômica fica por conta do grande líder Napoleão que após uma noite de bebedeiras acorda de ressaca e todos os bichos são avisados que o líder está mortalmente doente, alguns minutos depois que ninguém deve fazer qualquer barulho, passado o tempo o líder declara que qualquer um que beba Álcool deve morrer e finalmente a noite é anunciado que o líder passa bem para alegria geral da população.

Se pesquisar um pouco é possível encontrar um desenho bem antigo no YouTube, mas devo preveni-lo que o final do livro nada tem a ver com o final do desenho.

Obrigado e boa leitura
Fernando Anselmo

sábado, 31 de maio de 2014

Eu, robô

Essa semana que passou (dia 25 para ser mais específico) foi um data para os Geeks do mundo inteiro comemorar, e cada um comemora a sua maneira. A minha, foi relendo o clássico Eu, robô de Isaac Asimov.

Dizer que Asimov é um gênio acho muito pouco, o livro é simplesmente um ponto crucial da literatura de qualquer Geek. O livro possui muitas similaridades com outro chamado World War Z, não digo na história, em ambos os acontecimentos se passam em forma de entrevista (e através de lembranças), ambos tiveram um filme que não tem absolutamente nada a ver com o livro (na verdade nem chegam perto) e em ambos os livros são clássicos em suas respectivas áreas.

O livro se passa com as lembranças de uma robô-psicólogista Susan Calvin que conta uma série de histórias sobre seu trabalho na U.S.Robotics e a evolução da robótica desde os primeiros modelos até um futuro distante onde a humanidade ganhou todos os limites do espaço. O livro tem histórias incríveis e emocionantes como Robbie, um robô babá que é separado de sua dona humana (a cena que eles estão brincando de pique esconde é clássica) ou momentos hilários como dos dois cientistas que são enviados para fora do sistema solar e para isso precisam morrer (leia o livro que você vai entender porquê digo que é hilária).

Eu, robô faz parte de uma das três grandes séries de Asimov: Robôs, Fundação e Império. E não pense que foi apenas o filme de mesmo nome é sua única adaptação para o cinema, é possível ver referências desse livro em tudo o que se refere a robôs tanto no cinema quanto na TV. Principalmente levando em conta a descrição das três leis da Robótica que são definidas no livro:
  1. Um robô não pode ferir um ser humano, ou, por inação, permitir que um ser humano seja ferido;
  2. Um robô deve obedecer às ordens que lhe foram dadas por um ser humano, exceto quando tais ordens entrarem em conflito com a Primeira Lei.
  3. Um robô deve proteger sua própria existência, até onde tal proteção não entre em conflito com a Primeira e a Segunda Leis.
Acesse aqui uma compilação cronológica (realizada por Alessandro Ciapina) das obras de Asimov para entender suas complexas visões.

Obrigado e boa leitura,
Fernando Anselmo

sábado, 19 de abril de 2014

Livro - Sagrado - Capítulo 3

Sagrado

Durante muito tempo existe um livro que está borbulhando em meu cérebro. Não está completo, sonho tanto com suas partes que tive que escrevê-lo, se vou terminá-lo é outra história.

Capítulo 3

Período Paleolítico - Em torno de 15.000 a.C.

A fêmea estava na caverna com suas tintas, criadas de uma mistura de raiz e diversas terras, uma palheta com mais de 20 cores estava a sua disposição, várias crianças estavam a sua volta e a observavam com os olhos arregalados de admiração por seu trabalho. Eka era uma autêntica Homo Sapiens, possuía uma altura acentuada, membros retos e peito amplo, como também, uma maior capacidade craniana encontrada até então, o que provava facilmente através de sua arte e magia.

Em sua linguagem ela desenhava e explicava para as crianças contando suas histórias, de como o Criador de tudo está em cada um dos seres vivos como uma força divina, presente no mundo e em tudo o que nele existe (1). Seus desenhos impressionava pelo realismo e as crianças estavam mudas, sentadas comportadamente em pedras dispostas num semi-círculo a volta da artista.

Essa parte da grande caverna estava localizada fora da zona central, na qual reinava as pinturas sobre história da caça, era como uma avenida transversal com uma abertura lateral que ficava fora do caminho conhecido. Este foi o local escolhido por Eka para desenhar as figuras que deveriam ser repassadas para todas as gerações posteriores, era conhecida como a Grande Comunicadora, uma pessoa respeitável no clã que podia desenhar, ensinar, interpretar e conhecer (hoje teria o título de uma professora).

O grupo de Eka prosperava, sua caça era abundante e alguns começavam a praticar uma nova arte conhecida como Agricultura (2). Ao depender somente da caça deveriam migrar para novas área constantemente em busca de comida mas, com a criação de culturas, isso não seria mais necessário. Eka sempre selecionava e entregava as melhores e mais sadias sementes, o terreno era preparado a força do braço. Ainda não existiam animais domesticados a exceção de canídeos, ensinados a caça, que eram trazidos ainda filhotes para a tribo e adotados pelas crianças. Com chuvas regulares e um bom terreno a colheita era abundante, Eka também sabia que restos de comidas e cinzas da fogueira podia ajudar e as despartia por todo o terreno (muitos acreditavam ser isso uma espécie de benção).

Uma grande árvore se erguia, o que conhecemos hoje como Acacia decurrens ou Acácia Negra (3), com mais de 30 metros de altura e uma grande copa o que dava muita sombra nos dias de calor. Era considerada como a força da tribo, mal eles sabiam que realmente a árvore era responsável por muitos dos benefícios de sua precária agricultura. Ferir ou machucar essa árvore não passaria na mente de nenhum dos integrantes da tribo e era considerado um Tabu.

Na caverna, Eka desenhava essa árvore em todo seu esplendor, ela lembrava da época que ela estava toda florada e dominada de flores amarelas. Suas cores pareciam iluminar a caverna e qualquer um que a visse saberia instintivamente que quem desenhou possuía muito poder e receberia a mensagem que ali existia algo de tamanha grandeza e beleza como prova de que o Criador abençoava a tribo.

Uma criança entrou na caverna correndo.

- Eka, Eka, Eka... - disse o menino ofegante.
- Sim Mauiki - virou-se Eka sorridente.
- O grande disco solar está caindo, fiz conforme você pediu e vim correndo.
- Obrigada Mauki - Disse ela acariciando a cabeça de Mauiki.
- Sou merecedor Eka? - falou o menino com os olhos brilhando.
- Sim Mauki e aqui está.

Eka entregou uma pedra com um sol desenhado nela, sempre que pedia um favor creia que tinha que dar algo em troca. Essas pequenas pedras desenhadas eram muito apreciadas e cobiçadas pelas crianças que as exibiam como verdadeiros troféus. Alguns dos mais jovens caçadores achavam que seu sucesso estava em ter adquirido uma das pedras de Eka na infância e as carregado consigo durante a jornada de caça.

- Obrigado Eka, obrigado. - Disse o menino pegando reverencialmente a pedra com os olhos cheios de lágrimas.
- Você é merecedor Mauiki.

Eka sempre escolhia uma das crianças para fazer vigília na porta da caverna no dia necessário. Isso se devia por dois fatores, o canto que ela desenhava não batia a luz solar e por não ter relógio não podia computar o tempo que passava ali dentro. Esse trabalho de vigília poderia ser considerado como uma espécie de castigo pois todas as crianças gostavam de ver como ela realizava seu trabalho, mas em seu jeito de ser, Eka tinha criado as pequenas pedras desenhadas como modo de "premiar" quem ficasse de fora a espera que o sol inciasse seu descenso. No final essa criança não perdia muita coisa, pois todas as crianças reproduziam o que tinha acontecido na caverna entusiasmadas.

A Cerimônia

Eka sabia que a hora tinha chegado, essa noite teria a primeira lua cheia do mês e ainda tinha que se preparar. Deixou seu material de pintura, se despediu afavelmente das crianças e saiu da caverna para se banhar no rio.

No rio já estavam jovens se banhando e outras já realizavam os preparativos finais. Vestidas com uma espécie de pele branca, um colar de flores que enfeitava seus cabelos e pinturas coloridas que delineavam seus rostos, prontas para ir a uma festa (ou sair a um grande encontro). Ao todo eram mais de 20 que se arrumavam, desde as mais jovens até as mais velhas. Ninguém ajudava Eka a se preparar, e não existia qualquer sentido de hierarquia, todas elas eram iguais aos olhos do criador.

Essa era a primeira cerimônia, o evento de contato com o criador, os homens da tribo não participavam, alguns dormiam e outros ficavam na caverna comendo ou contando histórias assim como os meninos. Eka explicava para os meninos que os homens eram caçadores, matavam as criaturas do criador, assim não podiam saudar o criador.

- Mas, ainda não cacei nada Eka - Dizia um do meninos curiosamente.
- Sim Kauki, mas um dia você caçará, não existe o tempo para o Criador que existe desde o começo e vai existir para todo o sempre, aos olhos dele você já é um grande caçador da tribo.

O menino assentia e se alegrava em saber que um dia seria um bom caçador. Assim ensinava Eka, nunca desprezava ninguém e sempre alagava as habilidades de todos, por esse motivo era venerada pela tribo. Não possuía nenhum inimigo, todos a amavam e a respeitavam não por um sentido de hierarquia mas por um senso comum.

Uma vez que todas as mulheres terminavam em se aprontar iam caminhando para a Grande Árvore. Em torno a grande árvore, as mulheres sentavam e esperavam, esperavam que o Sol (masculino) deixasse seu lugar a Lua (feminino), se tivéssemos um calendário nessa época saberíamos que coincidentemente o dia era um Domingo (4). Quando a Lua finalmente surgiu no céu estava cheia e brilhante, mas a hora adequada ainda não tinha chegado.

Neste primeiro momentos, as mulheres levantaram e os ritos iniciaram. Cada uma delas, simplesmente pela ordem de quem tinha chegado primeiro, levantava-se e se apresentava com seu nome e o que sentia estando ali (sejam sentimentos felizes ou tristes, era impensável tentar mentir), normalmente as meninas que vinham pela primeira vez diziam que sentiam medo o que fazia Eka sorrir docemente por se lembrar de quando esteve ali na sua primeira vez.

Ao término dessa apresentação, começavam a cantar, não era algo decorado, conhecido, simplesmente a emissão do som que vinha de dentro de cada uma. Uma delas, ao acaso, começava e as outras harmoniosamente a seguiam formando a música e a melodia. Ficavam nessa espécie de embalo sonoro a espera. Algumas se sentavam, comiam ou bebiam algo, previamente trazidos para o local da cerimônia, não existia um formalismo do rito apenas sabiam que tinha que esperar.

As horas se passavam e exatamente a meia-noite quando a Lua estava mais brilhante e mais no centro de um céu claro, o canto tinha tomado corpo e proporção. Agora todas pareciam uma só. E nesse momento se estabelecia a comunicação com o Criador. Uma comunicação suave que não era pronunciada, mas sentida. Não era um êxtase espiritual, seria mais como uma percepção de conhecimento. O canto era simplesmente um meio de se chegar ao Sagrado. Não era um rito frenético com batidas era uma música pungente que saia da alma e chegava as esferas mais distantes.

Após certos momentos era chegado o último momento da cerimônia, consistia da divulgação do que foi percebido. Como se fossem organizadas cada uma das mulheres expunha o que tinha sentido sem confusões ou atropelos. Não existia a interpretação. Não existia a mentira. Quem não tinha sentido nada, não ficava envergonhada em confessá-lo. Quem achava que não deveria dizer nada, nada dizia. Não existia a obrigação a nada.

Eka recebeu uma mensagem que a deixou muito triste, sua tribo seria exterminada. Não por um ato divino, não por uma punição do Criador que estava insatisfeito com seu trabalho, mas como um fato que isso iria acontecer. Era como saber que algo triste vai ocorrer e que não se pode fazer nada para impedir. Muitas outras mulheres também perceberam o mesmo sentimento, e isso confirmou a mensagem enviada.

Agora a tribo deveria fazer seus preparativos para permitir que seu legado fosse passado.

(1) Esse modo de Religião é atualmente denominado de Panteísmo.
(2) Historicamente o surgimento da Agricultura se deu entre 8.000 e 5.000 a.C.(Período Neolítico), quando o homem deixou sua vida nômade, sedentarizando-se às margens dos rios e lagos, cultivando trigo, cevada e aveia.
(3) Espécie leguminosa de múltiplos propósitos, tais como restauração de ambientes degradados, fixação de nitrogênio, produção de tanino e de energia, dentre outros. Fonte: Embrapa.
(4) Originalmente os dois primeiros dias da semana foram nomeados como Sunday (Dia do Sol) e Moonday (Dia da Lua).

Boa Leitura e até a próxima
Fernando Anselmo

domingo, 30 de março de 2014

Livro - Sagrado - Capítulo 2

Sagrado

Durante muito tempo existe um livro que está borbulhando em meu cérebro. Não está completo, sonho tanto com suas partes que tive que escrevê-lo, se vou terminá-lo é outra história.

Capítulo 2

França ano 1200

Em resposta ao crescimento da heresia cátara no sul da França, uma bula do Papa Lúcio III criou em 1184 a pior tragédia de toda história medieval "A Santa Inquisição", pessoas eram condenadas a fogueira simplesmente por desavenças com seus vizinhos, ou simplesmente, porque eram feios demais e tinham cara de bruxos. O modo justo como a "Igreja" tratava seus condenados variava de Inquisidor, alguns simplesmente jogavam as pessoas nos lagos atados a uma grande pedra por 1/4 de hora, caso se afogassem eram declarados inocentes, caso contrário obviamente tinham algum pacto com o demônio e eram queimados vivos. Outra forma comum de julgamento passava por diversas formas de torturas, afinal se os Santos aguentaram as torturas qualquer homem ou mulher de fé também deveria aguentar.

Em meio a esse caos, estamos em uma pequena cidade a sudoeste conhecida como Périgueux (também conhecida ainda por muitos como Vesunna), ali encontramos Guy Penaud um próspero plantador de uvas e fabricante dos melhores vinhos da região. Possui uma pequena propriedade na região das montanhas que sempre foi cobiçada por todos. Poucos sabiam que o segredo de Guy estava em sua mulher Marie Anne de uma beleza invejável com seus grandes cabelos ruivos e seus grandes olhos verdes. E por mais uma ano a colheita tinha sido boa e Guy comemorava.

- Veja, minha Marie - Dizia Guy a sua esposa - As uvas estão maiores e mais doces que em qualquer outro ano.
- Sim meu querido, obviamente sabemos a quem devemos agradecer.
- Não diga isso mulher, deseja ser queimada em uma fogueira. Sabe que existem ouvidos em todos os cantos e só não fomos chamados pelo Inquisidor graças as doações que faço todos os anos para a construção da Catedral Saint Front.
- Inquisidores - Marie cospe no chão - malditos carniceiros e amaldiçoados sejam até o último de sua linhagem. Quando penso no que fizeram a pobre Collet, nunca me esquecerei de seus gritos naquela fogueira.
Collet não deveria desafiar a igreja.
- Tudo o que ela fez foi tratar as pessoas.
- Sim, com ervas e Deus sabe mais o que.
- Você sabe muito bem com o que Sr Guy Penaud, quando teve aquela terrível doença se não fosse por Collet você e muitos outros não estariam aqui respirando e qual foi o pagamento da pobre mulher?
- Por isso mesmo que estou dizendo minha Marie, devemos tomar cuidado.
- Sinto em lhe dizer Guy, mas hoje é a primeira lua cheia do mês.
- Não me agrada nem um pouco que você vá...
- Não é necessário que lhe agrade ou não, se temos essa tão generosa colheita...
- Sim, já sei o que você dirá, mas também não quer dizer que tenha que ficar feliz que todas as mulheres da minha família saiam a noite para o meio da floresta. Com certeza muitas pessoas adorariam denunciar esse acontecimento a Santa Inquisição.
- E quem faria isso? Se todos estão implicados?
- Sabe que a cidade está crescendo e temos muitas pessoas novas que não pactuam do que acontece.
- Novos cristãos com suas puritanas e submissas mulheres, tão conveniente.

Uma criança aparece correndo pelo Vinhedo.

- Mãe, mãe...
- Minha pequena Marie - diz Guy se fazendo de orgulhoso e tomando a menina em seus braços.
- Me solte pai, a vovó pediu para chamar a mamãe pois precisamos nos aprontar.
- Vamos minha pequena - fala Marie tomando sua filha dos braços de Guy.

Ao ver as duas se afastando, Guy simplesmente abaixa os braços e realiza uma pequena oração pedindo proteção as suas adoradas mulheres.

Gália - Século 61 a.C.

Diversas tribos disputavam o território Gaélico, sua luta era constante, mas em compensação uma sociedade era respeitada: "Os Druidas", espécie de Shamam das tribos antigas que representavam diversos papeis, tais como, tarefas de aconselhamento aos chefes, ensino, juízes e filósofos dentro da sociedade. A palavra de um Druida era considerada como Sagrada e como tal era Lei e eles possuíam trânsito livre por toda a Gália (matar um Druida ou faltar-lhes o respeito era impensável). Neste contexto algumas mulheres elevadas eram conhecidas como "Sacerdotisas" e responsáveis principalmente pela comunicação com os Deuses.

As mais poderosas mantinham sua base na Ilha de Anglesey (2), mas a Gália contava com um vasto número dessas sacerdotisas e entre elas se encontrava Desirex, uma grande dama que treinava novas jovens a se tornarem como ela.

- Marie, pela última vez digo-lhe que a Mandrágora (3) não é uma raiz que devemos brincar e sim estudar com todo o nosso respeito.

A pequena Marie Anne estava com uma grande porção de raiz de Mandrágora em suas mãos e a ninava como se fosse um bebê para a diversão de suas colegas.

- Desculpe-me mestra, mas ela parece com um neném.
- Sei que você não teve qualquer intenção Marie, porém devemos respeitar todos os seres que foram criados e estão a nossa disposição, todos são sagrados.
- Mas isso é apenas uma raiz - replicou Marie olhando para sua planta já tirada do solo.
- Ledo engano minha pequena, plante-a e veremos que renascerá novamente, ou seja, ainda carrega a vida em seu interior. - Olhou benevolente para suas outras discípulas - Tudo o que é vivo deve ser respeitado, pois tudo tem o toque do Semeador, é errôneo pensar que seremos beneficiadas se destruímos tudo o que se encontra ao nosso redor, nos seremos as únicas criaturas que perderemos com essa loucura.
- Não limpamos uma área para a cultivarmos? - Disse Marrie com seus grandes olhos verdes brilhando com a suposição que tinha encurralado sua mestra.
- Sim - Respondeu Desirex - mas somente depois de pedirmos permissão, e tudo o que podemos salvar plantamos em outro lugar, ou não?
- Sim - Disse Marie rendida.
- Então devemos aprender que tudo o que existe não é nosso, somos uma parte transitória neste mundo, e se estamos hoje aqui é porque temos a permissão de estarmos, e o que fazemos quando entramos em uma casa que estamos visitando?
- Respeitamos tudo - Entoaram as meninas sem muita convicção.
- Nos comportamos bem e tentamos deixar o máximo de coisas intactas para os próximos que vierem. - Disse Desirex com um largo sorriso.

Do outro lado aonde estavam, se aproximava um senhor de branco segurando um enorme cajado, caminhava dificultosamente e já curvado pela idade. Ao percebê-lo Desirex dispensa todas as meninas e se aproxima dele.

- Desirex, precisamos conversar.
- Claro Diodoneux. - Disse Desirex fazendo uma reverência.
- Filha, aqui longe de outras vistas não precisamos ter todo esse tratamento.
- Pai, foi assim que me ensinaram a tratar o Grande Lorde Druida.
- Apenas por este ano, você melhor que ninguém sabe que nunca pedi esse título.
- Mas que lhe foi concedido justamente.
- Sim, ainda bem que é apenas por três ciclos (4) pois prefiro minha rotina de sanador. Porém o que me traz aqui são outros assuntos, preciso de suas visões, pressinto que um grande perigo ronda nosso mundo.
- Também sinto isso meu Pai, como sabe esta noite teremos a primeira Lua Cheia do mês e poderemos realizar nosso ritual sem problemas.
- Sim querida, faça isso e por favor me informe o mais urgente possível.

A pequena Marie estava escondida atrás de uma árvore atenta a tudo como sempre. O velho Druida então se levanta e se vai.

- Marie, venha aqui por favor. - Chama calmamente Desirex.

Lentamente e envergonhada a menina sai de seu esconderijo e caminha a passos lentos cabisbaixa até sua mestra.

- Sabia que é horrível ficar escutando escondida a conversa dos outros.
- Me desculpe mamãe, só queria saber o que o vovô desejava. Quase não o vejo mais desde que se tornou o chefe dos druidas.
- Ele não se tornou o Chefe meu bebê - disse Desirex sorrindo - simplesmente foi eleito por um tempo para liderar os Druidas.
- Todos eles mãe? - Disse a menina com os olhos brilhando de orgulho pelo avô.
- Não minha querida, apenas os de nossa região, um pequeno centenar.
- Um dia você também vai ser chefe?

Desirex, deu uma generosa gargalhada pegou sua filha nos braços dando-lhe um grande beijo. Partiu com ela para começar os preparativos do que deveria fazer.

(2) A Ilha de Anglesey fica na Bretanha na extremidade noroeste do País de Gales. Provavelmente foi a ilha que deu origem a mitológica Ilha de Avalon (a ilha lendária da lenda Arturiana).
(3) A raiz de Mandrágora sempre foi conhecida por seu formato parecido com o corpo humano.
(4) Um ciclo solar compreende o período relativo ao movimento de translação, ou seja a volta da Terra ao redor do Sol.

Boa Leitura e até a próxima
Fernando Anselmo

sexta-feira, 21 de março de 2014

Livro - Sagrado - Capítulo 1

Sagrado

Durante muito tempo existe um livro que está borbulhando em meu cérebro. Não está completo, sonho tanto com suas partes que tive que escrevê-lo, se vou terminá-lo é outra história. Recomendo que de vez em quando releia os capítulos que já foram publicados pois decidi escrevê-los neste blog simplesmente pois assim posso torná-los públicos e dinâmicos. Da mesma forma como os sonhei.

Introdução

Não tenho por objetivo ofender qualquer Religião existente mas apenas de expor alguns fatos. Se estas ou suas sociedades foram citadas aqui simplesmente devem ser encaradas como parte do argumento para a história. Todos os personagens fazem parte da minha cabeça, mas devo dizer porém que assim como muitos personagens nos livros tidos como "Sagrados" bem que poderiam terem existidos.

A principal pergunta que deve ser respondida para criação deste livro é: Por que as mulheres possuem um papel tão secundário na nossa história? Vamos começar analisando a Grécia (berço do conhecimento) o prazer era feito apenas entre homens e o papel da mulher era exclusivamente para fins reprodutivos, mas um fato que chama a atenção, os Oráculos, ou melhor as Oráculos, eram sempre mulheres e a elas destinava-se a conversação com os deuses. Isso não variou em quase nenhuma sociedade antiga.

A pior época para as mulheres em seu relacionamento com o divino foi provavelmente a Idade Média (entre os séculos V e XV - ou seja 10 séculos de puro terror) na qual seu único e exclusivo direito era casar (com o marido que seus pais escolhessem), procriar e cuidar dos filhos e de seu esposo. Totalmente submissa e proibida completamente de praticar a nova religião que não fosse em um papel não muito maior que uma simples adoradora (ou trancafiada em um convento).

Chegamos até a idade moderna e novamente pergunto qual o papel da mulher nas principais religiões? Sinta-se livre para escolher qualquer uma desde as mais orientais até as ocidentais. Não desejo citar aqui qualquer religião mas em TODAS seu papel é de um mero coadjuvante (isso quando não atrapalha o homem em algumas de suas "santas" missões).
Fernando Anselmo

"Há quatro questões de valor na vida: O que é sagrado? Do que é feito o espírito? Pelo que vale a pena viver? e pelo que vale a pena morrer? A resposta a cada um é a mesma, só o amor"
Johnny Depp - Ator americano
"Não apenas pratique sua arte, mas ache o caminho de seus segredos, por que isso e o conhecimento que pode elevar os homens ao divino"
Ludwig van Beethoven - Compositor

Capítulo 1

Anos a frente da época atual - Em algum lugar na Floresta Amazônia

Fazia décadas na qual finalmente os homens tinham conseguido acabar com tudo, ninguém sabe como começou, um ato de terrorismo aqui, uma contra ação ali, traficantes se tornando mais poderosos que exércitos de países inteiros, loucos ditadores convencendo seu afligido povo a uma carnificina inumana, só sabemos que o resultado foi a perda de dois terços do planeta com a destruição total de vários países e um genocídio sem qualquer precedente na raça humana (talvez comparado apenas ao dilúvio), as poucas pessoas que restaram se refugiaram ao sul do planeta, por ser mais quente e adentrando suas florestas.

A maior concentração da população sobrevivente eram de pessoas não belicosas e isso ajudou na sua integração com o meio ambiente. As novas concentrações de população foram erguidas no meio a floresta e dessa vez os recursos renováveis eram levados a sério, pois fora dela o ar estava completamente contaminado e nada mais poderia sobreviver. Os oceanos Atlântico e Índico agora formavam um gigantesco mar e tinham separado a Terra em dois únicos continentes sobreviventes América do Sul e Austrália. Este segundo continha territórios que passaram a ser desconhecidos.

Maire Anne era filha de cientistas norte americanos e foi uma das primeiras a chegar na Amazônia e começar a nova cidade. Seu marido estava agachado perto de uma plantação de pequenos tomates-cereja que cresciam vigorosamente em uma estufa que ficava ao lado da casa. Correndo por todos os lados estavam varias crianças brincando todos netos e bisnetos de Maire. Ela estava sentada lendo como sempre fazia nas tardes calorosas de verão refrescando-se com seu chá.

- Parece que teremos belos tomates - Disse seu marido.
- Humm! - replicou Maire sem tirar os olhos da leitura de seu pequeno livro tantas vezes folheado.
- Pelo visto hoje não está valendo a pena conversar contigo.
- Sim querido, também acho que não virá chuva - Replicou Marie sem muita convicção.
- Mãe. - Gritou uma voz vinda de dentro da casa.
- Ela está lendo o livro novamente querida - Respondeu seu pai.

Uma jovem ruiva desceu as escadas de sua casa, era bem alta e com grandes olhos verdes assim como os de sua mãe.

- Mãe - disse a jovem se agachando a lado de Marie que não tirava os olhos do livro.
- Sim querida! - respondeu Marie sem lhe dar muita atenção.
- Sabe que hoje será a primeira lua cheia do mês - replicou sua filha - devemos nos preparar.
- Sim querida, também acho que não teremos chuva esta noite.
- Lhe disse Sarah - replicou seu pai também sem tirar sua atenção de seus tomates.
- Mãe - Sarah tomou o livro de Marie de suas mãos.
- Sim filha! - replicou Marie sobressaltada com o susto.
- Lhe disse que hoje é a primeira lua cheia do mês, devemos nos preparar.
- Por tudo que é sagrado, que horas são? - levantou Marie em um pulo.
- Tempo ainda para um bom banho.

Marie foi até seu marido e deu-lhe um grande beijo na testa e voou para dentro de casa seguida de perto por sua filha.

Época atual - Gruta de Lascaux - França

Henri e Marie renomados arqueólogos miravam belos desenhos de animais pré-históricos que ornavam as paredes da gruta na qual estavam, a poucos passos brincava sua pequena filha Marie Anne que com os olhos perseguia um pequeno lagarto que passeava pelo lugar. Henri estava extasiado com o que via pois a muito tempo atrás a gruta tinha sido fechada para os turistas e conseguir um visto para adentrar ao local era muito difícil.

- Veja Marie, olhe esses cavalos parece até que vão saltar das paredes.
- Henri, você parece uma criança, quantas grutas já entramos que tinham os mesmos desenhos - Replicou sua esposa afavelmente.
- Sim, mas sei que esta é diferente, as imagens estão mais bem preservadas.
- Pode ser por causa da falta de outras pessoas? Você sabe que não foi fácil conseguirmos um visto para visitarmos o lugar.
- Sim, sim, sim - Disse Henri perdido com os desenhos.
- Sinto uma sensação esquisita aqui dentro como se algo estivesse fora de lugar.
- Lá vem você com suas premonições novamente - disse Henri com uma lupa examinando mais um desenho - somos cientistas e não sensitivos.
- Henri o fato de você ser um descrente não faz de mim também uma.
- Ah não, de modo algum pretendo discutir com você sobre religião.
- Simplesmente porque você perdeu a última discussão.
- Não perdi nada, considero que foi um empate.
- Não me lembro disso - disse Marie rindo - na última caverna que estivemos provei para você que os antigos possuíam algum tipo de Religião, uma forma de celebração aos deuses.
- O que você me mostrou foram várias figuras em posição de oração, ora Marie até os antigos Egípcios possuíam deuses.

Marie Anne continuava brincando com seu pequeno lagarto quando este correu para um recanto mais afastado, como toda criança curiosa demais na sua idade ela se pôs de pé (com certa dificuldade) e foi atrás do pequeno animalzinho.

- Sim, mas sabemos que os habitantes das cavernas que estivemos eram bem mais antigos e esses já tinham uma crença em algo, você também leu os trabalhos de Tylor (1).
- Devo confessar que não acredito muito nessas teorias malucas Marie.
- Sim Henri, mas lembre-se que o nosso trabalho é exatamente prová-las.
- Ou não.
- Quantas cavernas já visitamos ao todo.
- Não sei - Disse seu marido pegando a lupa e voltando a examinar as pinturas.

Passado mais alguns minutos Marie mãe virou a cabeça instintivamente e ficou branca ao ver que sua pequena filha não estava mais no local onde a tinha deixado.

- Marie, Marie, cadê você querida - Disse ela começando a andar pelo local.

Seu marido assustado com os gritos saiu de seu transe e correu até onde estava sua esposa.

- Meu Deus Henri, nunca deveríamos tê-la deixado sozinha. - Disse uma Marie terrivelmente assustada com o que poderia acontecer.
- Calma Marie, iremos encontrá-la. Marie, Marie - começou a gritar também e a procurar em todos os cantos.

Sua mãe viu uma abertura lateral que ficava fora do caminho conhecido e alguma força estranha a arrastou direto para aquela direção como se tivesse a certeza do que estava fazendo.

- Para onde você está indo Marie - Perguntou tontamente Henri correndo atrás dela.

Após varias voltas e mais algumas novas passagens, Marie entrou em uma sala que era como se milhares de lâmpadas fossem acesas de uma só vez cegando-a temporariamente, quando sua visão foi se adaptando viu que Marie Anne estava sentada em uma rocha brincando com um pequeno livro.

Quando Henri chegou ficou com a mesma expressão de bobo quanto da sua esposa, nas paredes além de outros milhares de animais representados, também existiam diversas cenas do cotidiano como caça, a pesca, e por mais estranho que pudesse parecer desenhos de figuras de humanos dançando em volta de uma imensa árvore, como se fosse uma grande festa. Na sala tudo parecia estranho pois as rochas ao chão estavam dispostas simetricamente formando um semi-círculo.

- Isso é estranho Henri, mas parece que estamos em um pequeno auditório.
- Não seja ridícula Marie, sabe tão bem quanto eu que não existiam essas coisas naquela época.
- Veja essa disposição Henri, e o que são esses traços abaixo de cada uma das figuras, isso não consta nos outros desenhos.
- Sim concordo que isso seja estranho, talvez um modo de marcar cada um dos desenhos - disse Henri se apossando de sua lupa para examinar esses novos e intactos desenhos.
- Mamá - disse a pequena Marie sorrindo.

Sua mãe ficou de boca aberta quando voltou seus olhos em direção de sua filha e percebeu o que estava em suas mãos. Foi até ela se agachando instintivamente. Sua filha se aconchegou em seu colo. Ela retirou da bolsa que carregava sua mamadeira e ao dar-la tirou-lhe delicadamente o pequeno livro de suas mãos.

Seus grandes olhos verdes fixaram-se no pequeno livro que possuía a capa totalmente feita de peles. Seu marido arrastou-se para onde estavam as duas e também foi ver o que continha o estranho objeto.

- Henri, isso é totalmente impossível, os povos dessa região não possuíam conhecimento de escrita e também não fabricavam livros. Como isso veio parar aqui ? - Disse uma assustada Marie segurando o pequeno livro.
- Não sei Marie, o que sei é que tudo isso é muito estranho.

Delicadamente Marie abriu o livro e os dois ficaram ainda mais surpresos com o que viram.

(1) O antropólogo E. B. Tylor (1832 - 1917), afirmou que uma das primeiras religiões existentes se baseava na crença que o homem começou a ver as coisas a seu redor como animadas. Acreditava que os animais, as plantas, os rios, as montanhas, o sol, a lua e as estrelas continham espíritos, os quais era fundamental apaziguar. Batizou essa crença como Animismo.

Boa Leitura e até a próxima
Fernando Anselmo

domingo, 2 de março de 2014

Dois Livros e Dois Filmes

Essa semana terminei de ler dois excelentes livros que viraram filmes, e passei muito tempo pensando como iria tratar esse assunto. Primeiro pensei em tratar os livros separadamente, já que foram criados em épocas completamente diferentes, porém possuem uma coisa em comum: Viraram Filmes. Antes de começarmos, desejaria analisar a seguinte imagem:


Existe no Oscar duas categorias: Roteiro Original e Roteiro Adaptado. Para quem não entende nada de cinema, todo filme é feito com base em um ROTEIRO (e eu que pensava que era de um livro). Muitos filmes sequer possuem livro, são criações ORIGINAIS a partir do zero, veja por exemplo o Mega Sucesso de Ficção Científica "Guerra nas Estrelas" (as vezes os livros são criados depois para tentar vender um pouco mais). Já outros criam seu roteiro a partir de um livro (ou Adaptam o Livro se você prefere), daí o termo "Roteiro Adaptado".

O Exorcista
Autor: William Peter Blatty
Título Original: The Exorcist

Instrumentos Mortais - Cidade dos Ossos
Autora: Cassandra Clare
Título Original: The Mortal Instruments - City of Bones

Ambos são livros excelentes, e ambos contam a história de uma jovem encrencada, mas acho que a semelhança termina por aí. Acho que todas as pessoas conhecem a história de ambos (mais por causa dos filmes que dos livros). Só que o que mais me impressionou foi, essa imagem que coloquei claramente aparece (no começo o que me impressionou mesmo foi a tradução correta do título do livro para o português).

No caso de Cidade dos Ossos é ainda muito pior, ficou algo parecido com o primeiro filme de Percy Jackson, parece que o roteirista leu apenas o resumo do livro e achou que o final não prestava. Tipo assim: "Vou mudar esse final, porque as pessoas não vão entender o romance entre a Clary e o Simon, e vão preferir que ela termine com Jace (afinal de contas ele é um Nephilim)". Parece também que no filme acabou o orçamento, então a transformação de Simon em um Rato, ou a aparição das motos dos vampiros (que inclusive voam) ficaram completamente descartadas.

Já em O Exorcista todo o drama do padre Damien Karras ficou relegado a maquiagem de Regan e aos poderes demoníacos, o seja, o coitado morre no final e acabamos sem entender o por quê. Somente agora que li o livro consegui compreender toda a história. Principalmente seu relacionamento com a mãe que o demônio critica dizendo que ele a mandou para o inferno.

Infelizmente é assim que Hollywood trata os livros, pessoalmente acho que alguns roteiristas são piores do que críticos. O máximo que um crítico pode fazer é falar mal do filme, já o roteirista pode destruir um bom livro e criar um péssimo roteiro para um filme.

Boa Leitura e até a próxima
Fernando Anselmo

sábado, 15 de fevereiro de 2014

O Oito

Pelo título pensava em se tratar de mais um livro sobre assassinatos em série, mas qual foi minha surpresa ao descobrir que é uma história basicamente sobre Xadrez. Acabou por se tornar uma ótima surpresa com um livro bem interessante onde a história se passa desde a época medieval até aos dias atuais, algo em torno de 1790 até 1973, com a busca do misterioso e fictício Xadrez de Montglane que pertenceu a Carlos Magno e foi um presente dos Mulçumanos.

O Enigma do Oito
Autora: Katherine Neville
Título Original: The Eight

Duas noviças da abadia de Montglane, Valentine e Mireille são enviadas a França com uma missão, cada uma vai com uma peça do famoso xadrez de Carlos Magno que conta a lenda possuía poderes misticos com o objetivo de escondê-las pois o convento está correndo o risco de ser fechado. A partir deste ponto várias histórias se misturam e todas giram em torno de um jogo em busca desse irreal xadrez. Para aqueles (que como eu) adoram jogar xadrez e uma boa história este é um prato cheio, no livro muitos personagens históricos aparecem, tais como, Napoleão, Robespierre, Rousseau, Giacomo Casanova, Muammar al-Gaddafi, William Blake, Voltaire, Isaac Newton, Catarina a Grande e o próprio Carlos Magno em uma inusitada partida de Xadrez. Também são retratados alguns importantes acontecimentos históricos, tai como, a Queda da Bastilha, a Revolução Francesa e as pesquisas de Napoleão no Egito.

Obviamente que em um livro como este não podia faltar muita fantasia, então Alquimia, a Pedra Filosofal e a Fonte da Juventude são também tratados. É uma maravilhosa história de descobertas como por exemplo a explicação para "O Passeio do Cavalo" que é um problema matemático envolvendo o movimento da peça do cavalo no tabuleiro de xadrez, no qual esta deve percorrer todo o tabuleiro sem repetir qualquer casa que já tenha passado. Se gosta de numerologia o livro tem este título por causa do seguinte:

  • 8 foram os mouros que transportaram o Xadrez para Carlos Magno.
  • 8 é um número místico em várias culturas.
  • 8 são as casas horizontais e verticais em um tabuleiro de xadrez.
  • 4 vezes 8 são as peças de xadrez.
  • 8 vezes 8 são as casas que contém um tabuleiro de xadrez.
  • E se desvendar outros "8" que aparecem no livro este começa a perder a graça.
  • E um 8 deitado é a forma do infinito.

Agora a parte mais atraente do livro é sem dúvida Lily e seu cachorrinho de estimação "Carioca". Este cachorro é digno de Milú (cachorro do personagem Tintin), é muito divertido todas as confusões na qual ele se mete, inclusive ao morder a perna do Chefe da Polícia Secreta de Argélia em uma cena que tive que parar a leitura por vários minutos para conseguir parar de rir.

Boa Leitura e até a próxima
Fernando Anselmo

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Politicamente Incorreto

Essa semana terminei a leitura desse livro e queria aproveitar, e antes de perder o fio da meada, comentá-lo. Primeiro, concordo com o autor algumas coisas que aprendi na escola deveriam ser revistas mas simplesmente não são, por exemplo, aprendi que a Feijoada foi criada pelos escravos, para diferenciar do Feijão Branco (e também para não roubar) os escravos tinham sua ração em Feijão Preto e carnes menos nobres do porco (tais como, pé, orelha) como era muito difícil de cozinhar e demorava muito tempo, simplesmente era colocado para cozinhar tudo junto dando origem assim ao prato. Segundo o autor uma bela mentira inventada, pois a origem do prato é Européia em uma técnica que descende do Império Romano.

No livro o autor conta: "O cassoulet, da França, criado no século XIV, é parecidíssimo com a feijoada feito com feijão branco, linguiça, salsicha e carne de porco. Com o feijão preto, espécie nativa da América que os europeus adoraram, o prato tornou-se atração entre os brasileiros mais endinheirados. A citação mais antiga que restou sobre a feijoada mostra a refeição bem longe das senzalas. No Diário de Pernambuco de 7 de agosto de 1833, o elegante Hotel Théatre, do Recife, informa sobre a sua nova atração das quintas-feiras: Feijoada à Brasileira".

Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil
Autor: Leandro Narloch

O livro simplesmente é uma facada nos livros de história, usando como referência textos e pesquisas obtidos por diversas fontes mostra os erros mais grosseiros nos livros utilizados nas escolas. Santos Dumont, Aleijadinho, Lampião e Carlos Prestes, são alguns dos personagens que tem a vida esmiuçada (e destruída) pelo autor. Mas como se diz, vamos começar pelo início, os índios não viviam em paz nem com a natureza e muito menos com seus vizinhos guerras eram uma coisa muito comum assim como queimadas que eles usavam desde a caça até a limpeza do terreno para plantar e quando os Europeus chegaram encontraram um povo vivendo de Mandioca e Amendoim (as únicas culturas da época).

Negros Escravos a primeira coisa que faziam quando conseguiam comprar a liberdade era... comprar um escravo, isso mesmo, casos de Negros que eram donos de vários escravos são relatados no livro, acha que acabou por aí? Viver nos Quilombos era a mesma coisa que ser Médico Cubano e vir para o Brasil no programa Médicos para Todos. Era um verdadeiro inferno e muitas vezes não se tinha para onde escapar.

Recomendo que ao ler, o faça com a mente mais aberta possível e não se deve ater aos velhos preconceitos. Sobre a Guerra do Paraguai, o então presidente paraguaio Francisco Solano López era um ditador louco que levou seu país ao completo afundamento. Santos Dumont um homossexual afetado que apenas queria aparecer e nem de longe inventou o avião no máximo uma máquina que dava saltinhos. Aleijadinho não era como "O Corcunda de Notre-Dame" e possui apenas uma doença de pele suas obras nada tinham de especial. Outro afetado era Lampião que adorava passear de carro com roupas pra lá de estranhas e puxava o saco dos coronéis. Carlos Prestes e Olga ganham um capítulo especial, só para se ter uma ideia, Carlos é tido como um completo idiota que estragou todos os planos dos Comunistas.

Bem, como disse o livro é um tapa na cara dos livros de história e ainda existem muitos mais casos expostos, e se vai ler o faça com a mente totalmente aberta. Falando nisso a palavra "mingau" deriva da pasta feita com as vísceras cozidas do prisioneiro devorado pelos tupinambás.

Boa Leitura e até a próxima
Fernando Anselmo


quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Crônica de um Rei Atordoado

Pode um Rei desejar ver sua Esposa (a Rainha) nua? Não, este não é um conto erótico. Muito pelo contrário, é um conto sério e até mesmo com algumas passagens bastante hilárias, que em 1991 inclusive ganhou uma adaptação para o Cinema com o título: "El Rey Pasmado" com Gabino Diego no papel do Jovem Rei, assista ao trailer:


Crônica de um Rei Atordoado
Autor: Gonzalo Torrente Ballester
Título Original: Crónica del rey pasmado

No início do Século XVII, o Rei de Espanha - quase um garoto - após passar uma noite em um prostíbulo, confessa seu desejo durante uma missa em ver a Rainha nua, só que obviamente encontra a oposição da recatada Igreja da época. Os maridos só podiam fazer sexo com sua esposa na ocasião de terem filhos e ainda era recomendado que eles dormissem em quartos separados. Só que o Rei encontra um apoio totalmente inesperado um nobre Conde (vindo de não se sabe de onde) e um Jesuíta.

A tensão aumenta pois até mesmo a Santa Inquisição resolve entrar no jogo de proibição e começa a querer condenar o Rei por heresia. A população se sente dividida entre uns confessando que o desejo do Rei é legítimo e outros achando aquilo um total absurdo e assim a história se passa por várias facetas. Para piorar a situação o exército está em um momento crucial e a população começa a achar que o Rei pode acabar contrariando a Deus. O final é completamente inesperado e não pretendo de maneira alguma estragá-lo.

Este é mais um daqueles livros de bolso (bem curto com apenas 192 páginas) que rapidamente lemos e que em momento algum deixa de ser divertido.

Boa Leitura e até a próxima
Fernando Anselmo

domingo, 19 de janeiro de 2014

Cruzados e Intrigas uma boa combinação

Adoro os livros de História Medieval, e por favor não confunda "O Senhor do Anéis" ou "Crônicas de Fogo e Gelo" com histórias medievais, pois as terras passadas por eles sequer existiram é a mesma coisa de Conan. Livros de Histórias Medievais podem até ser fantasiosos, mas pode-se dizer que existe como cenário a parte histórica, por exemplo existiram os Templários e existiu realmente Saladino que foi um chefe militar muçulmano e se tornou sultão do Egito e da Síria. O que pode não ter existido e a história criada em torno deste livro.

O Laço Púrpura de Jerusalém
Autor: Jesús Maeso de la Torre
Título Original: El Lazo Púrpura de Jerusalén

Este é um daqueles livros que sabemos que a história vai ser muito boa logo nos primeiros capítulos. Começa com o julgamento do Templário Brian de Lasterra acusado de matar um colega Urso de Marsac e deserdar de Terra Santa, então o que temos é toda a história da vida de Brian desde sua entrada para lutar nas Cruzadas. Mas não pense que a história é apenas isso, pois também temos o roubo de alguns objetos de uma fortaleza Templária, o encontro de Brian com Saladino para devolver um Alcorão perdido, as disputas pelos lugares sagrados durante a Última Cruzada. Ou seja, é uma real novela medieval histórica capaz de prender o fôlego atrás de cada página.

Vamos a um pequeno trecho desse grandioso livro quando Brian reencontra os pais e cheios de orgulho por saber que o filho se tornou uma lenda se surpreendem que Brian tenha se encontrado com o próprio Saladino (que todo cristão julga ser a verdadeira cria do Inferno):

Brian soltou uma sonora gargalhada e disse com o olhar afável disse:

- Ele é um Príncipe de fiéis muçulmanos e homem austero, piedoso, caridoso e cortês, e tão bom soldado como a nós mesmos, pai. Ele é um cavalheiro de honra. Só que é um outro sangue e outra fé que a defende com toda a alma. Como você e eu. Sabia que ele deu um presente?

Brian poderia dizer que ao entregar alguns presentes e expor sua admiração pelo xadrez presenteado por Saladino, suas figuras de cristal e talhado em ouro, iluminada por candelabros, a lareira e as velas amarelas, adquiriu uma qualidade próxima da humana. Não havia tido a ocasião de admirar com atenção e, naquele momento, parecia esquisito e bonito. A admiração da família chegou a um entusiasmo inesperado. O mérito tinha contratado Brian , que até mesmo o inimigo dos inimigos da cruz ofereceu amizade e presentes? Os menestréis, que cantavam um pequeno coro, silenciaram sua canção.

Deixou o badalar dos alaúdes, com harpas e se fez um silêncio feliz na sala. Familiares, escudeiros, os nobres da casa, vassalos convidados e os empregados domésticos fixaram os olhos no objeto extraordinário que brilhava como uma centena de sóis. Suas retinas nunca tinha contemplado um tesouro de excelência.

Este é um livro fantástico e muito bom para entender algumas coisas que se passavam naquela época como o fanatismo das pessoas sobre a religião, o poder superior da Igreja em relação a Reis, a força de boatos que podem destruir as pessoas e principalmente sobre Os Templários.

Boa Leitura e até a próxima
Fernando Anselmo



sábado, 11 de janeiro de 2014

Dr. Ozzy

Antes de começar essa postagem gostaria de dizer que não, não publico aqui todos os livros que leio, publico apenas os livros que leio até o final. Alguns livros simplesmente começo a ler, eles me aborrecem e paro com a leitura (ou seja, nunca veremos esses livros por aqui). Resumindo, os livros que publico aqui li e recomendo todos. O livro dessa semana demorei dois anos para ler, comecei em 2013 e só terminei agora em 2014. É um livro muito divertido e interessante.

Confie em mim - Eu sou o Dr. Ozzy
Autores: Ozzy Osbourne e Chris Ayres
Título Original: Trust me, I'm Dr. Ozzy

O que se pode esperar do "Príncipe das Trevas" quando se pergunta: tenho um problema com drogas ou peguei meus filhos roubando coisas dentro de casa. Provavelmente algo louco como: envie suas drogas para mim ou atire seus filhos da ponte. Coisa nenhuma, este é um livro recheado de conselhos interessantes como: acho que deveria encarar seu problema de frente e procurar uma ajuda profissional ou já pensou em ter uma conversa franca com seus filhos? Fiquei bestificado com algumas respostas no qual esperava uma brincadeira ou na melhor das hipóteses um "vá se lasc...". Principalmente porque nas primeiras páginas do livro nos deparamos com coisas como: "Atenção: Ozzy Osbourne não é um profissional médico qualificado. Leia com cautela. É sério, leia com cautela".

Só que ao contrário do que se espera, Ozzy e seu departamento de pesquisas (o nome dele é Chris) encaram com real bom humor todos os temas propostos. E esses temas são todos polêmicos, tais como, Drogas, Álcool, Fármacos em geral, Sexo, Amizade, Família e até Genética, e sempre no estilo de perguntas e respostas, com algumas curiosidades e um teste no final de cada capítulo. Separei uma pergunta para que possamos ter uma boa ideia do estilo de Ozzy:

Caro Dr. Ozzy,
Recentemente fui ao Brasil e vi os alertas de saúde mais inacreditavelmente explícitos no verso dos maços de cigarro - bebês mortos, pés gangrenados, amputados, etc. Você acha que essa "tática do medo" funciona, ou é tão exagerada que tem o efeito contrário?
- Don, Greenwich, Inglaterra

O fato de alguém conseguir tragar e tossir um maço de cigarros inteiro enquanto olha uma foto de um tumor de garganta com trinta centímetros de largura só demonstra como essa porr... é viciante. Juro que, se alguém inventasse a nicotina hoje, ela estaria na mesma categoria da heroína - e digo isso como alguém que já fumou cigarros e usou heroína. Eu me lembro de ser tão viciado em tabaco que chegava a apanhar bitucas do chão para fumar. Nojento, cara. O fato, porém, é que, quando eles começam a imprimir essas imagens terríveis nos maços de cigarros - como cadáveres de crianças e coisas do gênero -, é o caso de se perguntar: "Então por que diabos continuam vendendo essa merd...?". Em algum momento, eles precisam proibir esse troço ou deixar que as pessoas continuem se matando.

Pode-se dizer que Ozzy é bem franco quanto aos temas propostos e tem um estilo brincalhão/sério por todo o livro, vai distribuindo seus conselhos, que são muito bem pensados, conta as experiências que teve e como fez para largar o vício. Logo na introdução do livro, "Se alguém me dissesse alguns anos atrás que eu escreveria um livro dando conselhos, eu daria um soco no nariz de quem zoasse comigo desse jeito", ainda bem que o pessoal do Sunday Times Magazine insistiu e Ozzy aceitou. Essa é uma das colunas de maiores sucessos da revista (tanto que foi parar também na Rolling Stone - A revista não a banda). Muitas vezes estamos lendo e sem perceber rindo muito como as perguntas e respostas:

Caro Dr. Ozzy,
Acabo de engolir um chiclete. É verdade que ele vai levar sete anos para passar pelo meu sistema?
- Frank, Portsmouth, Inglaterra

Não pode ser verdade, porque senão a esta altura eu seria meio humano, meio hortelã.

E nesse clima que a leitura do livro torna-se muito divertida, ou seja bem no estilo do "Príncipe das Trevas".

Boa leitura e até a próxima
Fernando Anselmo

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Dresden e os Lobisomens

O tema Lobisomens poderia se tornar algo chato e batido, com o título de Lua Cheia podemos inclusive confundir esse título com a saga Crepúsculo (e esperar um Jacob nu da cintura para cima, engraçado que como Hulk a calça nunca rasga). Graças que a criatividade de Jim Butcher andou em alta neste livro e no máximo temos uma bela Loba.

Lua Cheia - Livro 02 da Saga de Dresden 
Autor: Jim Butcher 
Título Original: Fool Moon - Book Two of the Dresden Files

Disse na postagem anterior que tinha adorado o primeiro livro e realmente as histórias são surpreendentemente interessantes, neste começo de ano pretendo dar continuidade a essa saga. Após os acontecimentos do primeiro livro, Dresden é finalmente chamado pela Tenente Karrin Murphy para auxiliar em um novo caso, dessa vez, os corpos são achados totalmente despedaçados e o que parece por um lobo. Além de enfrentar a descrença da polícia, o bruxo também vai ter que enfrentar o FBI que está a cargo desses assassinatos. Mas que Dresden leva tudo com bom humor de sempre:

E, por trás da mordaça, comecei a rir. Não pude evitar-lo. Ri, e soou como que me afogara em um charco de águas estancadas.
Todas as peças encaixavam.

Antes que se pense em algum plágio (ou semelhança) com Harry Potter, deixe-me dizer que o nome completo de Dresden é Harry Blackstone Copperfield Dresden, e esse Harry vem de Houdini, ou seja, o nome é a composição de nomes de grandes mágicos (como ele mesmo cita) uma singela homenagem de seu pai (que era mágico e não bruxo) quando ele nasceu.

Mais alguns detalhes da vida do personagem são expostos, ou seja, provavelmente o autor vai abrir aos poucos o personagem a cada livro. O detalhe mais marcante do livro é realmente conhecer todas as raças existentes de homens lobo. Segundo o cinema um homem lobo é alguém que é mordido por outro e na próxima Lua Cheia sofre a maldição de se transformar no bicho e só pode ser morto com balas de prata. A criatividade de Jim permitiu muito mais. Vejamos esse diálogo entre Dresden e Bob (um esqueleto incorporado por um espírito com memória de computador):

- Assim que havia homens lobo naquela época
- Está me gozando? - exclamou Bob - Estavam em pleno apogeu. Havia de todas as classes: Hexenwolves, Lobisomens, Licantropos e Loup-garou. Todas as classes de lupinos zoomorfos que possa imaginar.
- Zoo quê? - perguntei.
- Zoomorfos - repetiu Bob - Qualquer coisa que pode mudar de forma humana para a animal. Os homens lobo são Zoomorfos. Também os homens urso, os homens tigres, os homens búfalos...
- Búfalos? - perguntei.
- Claro. Alguns xamãs nativos americanos podem transformar-se em búfalo. Porem quase todos se transformam em predadores e, até muito pouco tempo, os homens lobo eram os predadores mais temíveis na Europa.

Pode-se dizer que as histórias deste bruxo sempre são uma mistura entre a comédia pura e a seriedade de Stephen King, sempre é uma surpresa a cada capítulo.

Boa leitura e até a próxima
Fernando Anselmo