sexta-feira, 21 de março de 2014

Livro - Sagrado - Capítulo 1

Sagrado

Durante muito tempo existe um livro que está borbulhando em meu cérebro. Não está completo, sonho tanto com suas partes que tive que escrevê-lo, se vou terminá-lo é outra história. Recomendo que de vez em quando releia os capítulos que já foram publicados pois decidi escrevê-los neste blog simplesmente pois assim posso torná-los públicos e dinâmicos. Da mesma forma como os sonhei.

Introdução

Não tenho por objetivo ofender qualquer Religião existente mas apenas de expor alguns fatos. Se estas ou suas sociedades foram citadas aqui simplesmente devem ser encaradas como parte do argumento para a história. Todos os personagens fazem parte da minha cabeça, mas devo dizer porém que assim como muitos personagens nos livros tidos como "Sagrados" bem que poderiam terem existidos.

A principal pergunta que deve ser respondida para criação deste livro é: Por que as mulheres possuem um papel tão secundário na nossa história? Vamos começar analisando a Grécia (berço do conhecimento) o prazer era feito apenas entre homens e o papel da mulher era exclusivamente para fins reprodutivos, mas um fato que chama a atenção, os Oráculos, ou melhor as Oráculos, eram sempre mulheres e a elas destinava-se a conversação com os deuses. Isso não variou em quase nenhuma sociedade antiga.

A pior época para as mulheres em seu relacionamento com o divino foi provavelmente a Idade Média (entre os séculos V e XV - ou seja 10 séculos de puro terror) na qual seu único e exclusivo direito era casar (com o marido que seus pais escolhessem), procriar e cuidar dos filhos e de seu esposo. Totalmente submissa e proibida completamente de praticar a nova religião que não fosse em um papel não muito maior que uma simples adoradora (ou trancafiada em um convento).

Chegamos até a idade moderna e novamente pergunto qual o papel da mulher nas principais religiões? Sinta-se livre para escolher qualquer uma desde as mais orientais até as ocidentais. Não desejo citar aqui qualquer religião mas em TODAS seu papel é de um mero coadjuvante (isso quando não atrapalha o homem em algumas de suas "santas" missões).
Fernando Anselmo

"Há quatro questões de valor na vida: O que é sagrado? Do que é feito o espírito? Pelo que vale a pena viver? e pelo que vale a pena morrer? A resposta a cada um é a mesma, só o amor"
Johnny Depp - Ator americano
"Não apenas pratique sua arte, mas ache o caminho de seus segredos, por que isso e o conhecimento que pode elevar os homens ao divino"
Ludwig van Beethoven - Compositor

Capítulo 1

Anos a frente da época atual - Em algum lugar na Floresta Amazônia

Fazia décadas na qual finalmente os homens tinham conseguido acabar com tudo, ninguém sabe como começou, um ato de terrorismo aqui, uma contra ação ali, traficantes se tornando mais poderosos que exércitos de países inteiros, loucos ditadores convencendo seu afligido povo a uma carnificina inumana, só sabemos que o resultado foi a perda de dois terços do planeta com a destruição total de vários países e um genocídio sem qualquer precedente na raça humana (talvez comparado apenas ao dilúvio), as poucas pessoas que restaram se refugiaram ao sul do planeta, por ser mais quente e adentrando suas florestas.

A maior concentração da população sobrevivente eram de pessoas não belicosas e isso ajudou na sua integração com o meio ambiente. As novas concentrações de população foram erguidas no meio a floresta e dessa vez os recursos renováveis eram levados a sério, pois fora dela o ar estava completamente contaminado e nada mais poderia sobreviver. Os oceanos Atlântico e Índico agora formavam um gigantesco mar e tinham separado a Terra em dois únicos continentes sobreviventes América do Sul e Austrália. Este segundo continha territórios que passaram a ser desconhecidos.

Maire Anne era filha de cientistas norte americanos e foi uma das primeiras a chegar na Amazônia e começar a nova cidade. Seu marido estava agachado perto de uma plantação de pequenos tomates-cereja que cresciam vigorosamente em uma estufa que ficava ao lado da casa. Correndo por todos os lados estavam varias crianças brincando todos netos e bisnetos de Maire. Ela estava sentada lendo como sempre fazia nas tardes calorosas de verão refrescando-se com seu chá.

- Parece que teremos belos tomates - Disse seu marido.
- Humm! - replicou Maire sem tirar os olhos da leitura de seu pequeno livro tantas vezes folheado.
- Pelo visto hoje não está valendo a pena conversar contigo.
- Sim querido, também acho que não virá chuva - Replicou Marie sem muita convicção.
- Mãe. - Gritou uma voz vinda de dentro da casa.
- Ela está lendo o livro novamente querida - Respondeu seu pai.

Uma jovem ruiva desceu as escadas de sua casa, era bem alta e com grandes olhos verdes assim como os de sua mãe.

- Mãe - disse a jovem se agachando a lado de Marie que não tirava os olhos do livro.
- Sim querida! - respondeu Marie sem lhe dar muita atenção.
- Sabe que hoje será a primeira lua cheia do mês - replicou sua filha - devemos nos preparar.
- Sim querida, também acho que não teremos chuva esta noite.
- Lhe disse Sarah - replicou seu pai também sem tirar sua atenção de seus tomates.
- Mãe - Sarah tomou o livro de Marie de suas mãos.
- Sim filha! - replicou Marie sobressaltada com o susto.
- Lhe disse que hoje é a primeira lua cheia do mês, devemos nos preparar.
- Por tudo que é sagrado, que horas são? - levantou Marie em um pulo.
- Tempo ainda para um bom banho.

Marie foi até seu marido e deu-lhe um grande beijo na testa e voou para dentro de casa seguida de perto por sua filha.

Época atual - Gruta de Lascaux - França

Henri e Marie renomados arqueólogos miravam belos desenhos de animais pré-históricos que ornavam as paredes da gruta na qual estavam, a poucos passos brincava sua pequena filha Marie Anne que com os olhos perseguia um pequeno lagarto que passeava pelo lugar. Henri estava extasiado com o que via pois a muito tempo atrás a gruta tinha sido fechada para os turistas e conseguir um visto para adentrar ao local era muito difícil.

- Veja Marie, olhe esses cavalos parece até que vão saltar das paredes.
- Henri, você parece uma criança, quantas grutas já entramos que tinham os mesmos desenhos - Replicou sua esposa afavelmente.
- Sim, mas sei que esta é diferente, as imagens estão mais bem preservadas.
- Pode ser por causa da falta de outras pessoas? Você sabe que não foi fácil conseguirmos um visto para visitarmos o lugar.
- Sim, sim, sim - Disse Henri perdido com os desenhos.
- Sinto uma sensação esquisita aqui dentro como se algo estivesse fora de lugar.
- Lá vem você com suas premonições novamente - disse Henri com uma lupa examinando mais um desenho - somos cientistas e não sensitivos.
- Henri o fato de você ser um descrente não faz de mim também uma.
- Ah não, de modo algum pretendo discutir com você sobre religião.
- Simplesmente porque você perdeu a última discussão.
- Não perdi nada, considero que foi um empate.
- Não me lembro disso - disse Marie rindo - na última caverna que estivemos provei para você que os antigos possuíam algum tipo de Religião, uma forma de celebração aos deuses.
- O que você me mostrou foram várias figuras em posição de oração, ora Marie até os antigos Egípcios possuíam deuses.

Marie Anne continuava brincando com seu pequeno lagarto quando este correu para um recanto mais afastado, como toda criança curiosa demais na sua idade ela se pôs de pé (com certa dificuldade) e foi atrás do pequeno animalzinho.

- Sim, mas sabemos que os habitantes das cavernas que estivemos eram bem mais antigos e esses já tinham uma crença em algo, você também leu os trabalhos de Tylor (1).
- Devo confessar que não acredito muito nessas teorias malucas Marie.
- Sim Henri, mas lembre-se que o nosso trabalho é exatamente prová-las.
- Ou não.
- Quantas cavernas já visitamos ao todo.
- Não sei - Disse seu marido pegando a lupa e voltando a examinar as pinturas.

Passado mais alguns minutos Marie mãe virou a cabeça instintivamente e ficou branca ao ver que sua pequena filha não estava mais no local onde a tinha deixado.

- Marie, Marie, cadê você querida - Disse ela começando a andar pelo local.

Seu marido assustado com os gritos saiu de seu transe e correu até onde estava sua esposa.

- Meu Deus Henri, nunca deveríamos tê-la deixado sozinha. - Disse uma Marie terrivelmente assustada com o que poderia acontecer.
- Calma Marie, iremos encontrá-la. Marie, Marie - começou a gritar também e a procurar em todos os cantos.

Sua mãe viu uma abertura lateral que ficava fora do caminho conhecido e alguma força estranha a arrastou direto para aquela direção como se tivesse a certeza do que estava fazendo.

- Para onde você está indo Marie - Perguntou tontamente Henri correndo atrás dela.

Após varias voltas e mais algumas novas passagens, Marie entrou em uma sala que era como se milhares de lâmpadas fossem acesas de uma só vez cegando-a temporariamente, quando sua visão foi se adaptando viu que Marie Anne estava sentada em uma rocha brincando com um pequeno livro.

Quando Henri chegou ficou com a mesma expressão de bobo quanto da sua esposa, nas paredes além de outros milhares de animais representados, também existiam diversas cenas do cotidiano como caça, a pesca, e por mais estranho que pudesse parecer desenhos de figuras de humanos dançando em volta de uma imensa árvore, como se fosse uma grande festa. Na sala tudo parecia estranho pois as rochas ao chão estavam dispostas simetricamente formando um semi-círculo.

- Isso é estranho Henri, mas parece que estamos em um pequeno auditório.
- Não seja ridícula Marie, sabe tão bem quanto eu que não existiam essas coisas naquela época.
- Veja essa disposição Henri, e o que são esses traços abaixo de cada uma das figuras, isso não consta nos outros desenhos.
- Sim concordo que isso seja estranho, talvez um modo de marcar cada um dos desenhos - disse Henri se apossando de sua lupa para examinar esses novos e intactos desenhos.
- Mamá - disse a pequena Marie sorrindo.

Sua mãe ficou de boca aberta quando voltou seus olhos em direção de sua filha e percebeu o que estava em suas mãos. Foi até ela se agachando instintivamente. Sua filha se aconchegou em seu colo. Ela retirou da bolsa que carregava sua mamadeira e ao dar-la tirou-lhe delicadamente o pequeno livro de suas mãos.

Seus grandes olhos verdes fixaram-se no pequeno livro que possuía a capa totalmente feita de peles. Seu marido arrastou-se para onde estavam as duas e também foi ver o que continha o estranho objeto.

- Henri, isso é totalmente impossível, os povos dessa região não possuíam conhecimento de escrita e também não fabricavam livros. Como isso veio parar aqui ? - Disse uma assustada Marie segurando o pequeno livro.
- Não sei Marie, o que sei é que tudo isso é muito estranho.

Delicadamente Marie abriu o livro e os dois ficaram ainda mais surpresos com o que viram.

(1) O antropólogo E. B. Tylor (1832 - 1917), afirmou que uma das primeiras religiões existentes se baseava na crença que o homem começou a ver as coisas a seu redor como animadas. Acreditava que os animais, as plantas, os rios, as montanhas, o sol, a lua e as estrelas continham espíritos, os quais era fundamental apaziguar. Batizou essa crença como Animismo.

Boa Leitura e até a próxima
Fernando Anselmo

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