terça-feira, 24 de dezembro de 2013

A Marca do Herege

O que pensar de um título desses? Pensei que estava na mão mais um livro sobre a idade média, ledo engado o que tinha na mão era mais um suspense policial e dessa vez no estilo de "A Garota com a Tatuagem de Dragão" da Trilogia Millenium.

A Marca do Herege
Autora: Susana Fortes
Título Original: La huella del hereje 

A obra envolve Santiago de Compostela (visita obrigatória de todo peregrino), onde na catedral é encontrado o corpo de uma jovem vítima de um assassinato e ao mesmo tempo desaparece da Biblioteca da Universidade um manuscrito de Prisciliano (um conhecido herege galego). A partir dessa trama, dois personagens tentam desvendar esse mistério, o subcomissário Lois Castro que é um policial a moda antiga e Laura Márquez uma jovem periodista que deseja ascender na carreira e conta com a ajuda de Villamil um repórter veterano. Do mesmo modo que Lisbeth Salander, a jovem Laura é uma espécie de hacker, lutadora de rua (só que no caso dela é esgrima) e totalmente a parte da sociedade.

No meio do caminho dos descobrimentos entram ecologistas, peregrinos, professores, seitas e padres com suas próprias ideias de salvação. Devo comentar também que a autora é licenciada em Geografia e História pela Universidade de Santiago de Compostela então, prepare-se, pois o conhecimento transmitido no livro desta cidade é incrível. Não espere porém encontrar um "Guia do Peregrino", em momento nenhum "O Caminho" é citado, apenas suas histórias, como por exemplo nesta referência sobre a "Concha" (símbolo do peregrino) que é usada como um cinzeiro por um padre:

A atmosfera estava quente lá dentro, e cheirava ao café que começava a borbulhar no fogão de ferro. Laura pediu permissão para colocar o gravador em cima da mesinha de centro. Uma concha servia às vezes como um cinzeiro. Tinha as bordas amareladas de nicotina. Havia várias espalhadas por todo o quarto. Márquez levou-se pela curiosidade. 
- O símbolo da peregrinação jacobina - disse colocando-a na mão -. Pelo que sei, foi também o emblema dos seguidores de Prisciliano . 
- Vejo que está bem informada - sorrio o pároco -. Podemos verificar as seguintes coincidências, sabes que o caminho em torno à Galícia empreendido pelos discípulos de Prisciliano com o corpo do mártir segue o mesmo itinerário ao longo dos séculos se converteria na rota de peregrinação jacobina. 
- Não, eu não sabia... 
- Embora existam aqueles que pensam que o caminho reproduz uma antiga rota druida - adicionou o padre como quem não quer a coisa -. Veja bem, há teorias para todos os gostos. Sobre o que você diz sobre a concha - continuou ele - foi seu discípulo, Prócula, quem adotou o símbolo quando priscilianistas refugiaram-se na Galícia depois de serem expulso da Aquitânia. 
- De pouco serviu esse abrigo. Também aqui foram perseguidos . 
- É claro - o pároco concordou, balançando a cabeça algumas vezes para cima e para baixo -, mas nunca chegaram a acabar com todos eles. Todo o Noroeste era deles, e a Igreja sabia. A Irmandade tornou-se uma sociedade secreta com um poder enorme. Tanto o Papa Inocêncio I, em 404, teve que solicitar a ajuda do imperador Honório para impedir sua expansão.

Resumidamente, este é um livro carregado de histórias, com um raro suspense policial para não se preocupar pois nos últimos capítulos tudo será esclarecido, porém fica um gostinho de saber mais sobre o que acontece com os personagens principais.

Boa leitura e até a próxima
Fernando Anselmo

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